sábado, 20 de junho de 2015

Aleitamento materno e uso de medicamentos durante a lactação

  

ALEITAMENTO X MEDICAMENTOS EM USO



  O leite materno, indiscutivelmente, é o melhor alimento que pode ser oferecido para o lactente, quer seja pelas suas características biológicas e nutricionais ou devido às várias qualidades e benefícios de ordem física e emocional que o aleitamento materno proporciona tanto para a criança quanto para a mãe.

  A prática do aleitamento materno, principalmente se desenvolvida como maneira exclusiva de alimentar o lactente, deve ser estendida até o sexto mês de vida e, a partir de então, continuada até os dois anos de idade, sendo então complementada com outros alimentos. Considerando-se os múltiplos fatores que a ela estão relacionados para que esta prática seja adequada e naturalmente desenvolvida, é necessário orientação e apoio à lactante e aos familiares, tarefa esta de grande importância e de competência dos serviços de saúde e de toda comunidade, no sentido de incentivar e facilitar o aleitamento materno.
Torna-se importante, então, identificar e entender todos os fatores que, eventualmente, possam interferir negativamente nesta prática e contribuir para o desmame precoce. Dentre os vários fatores que se relacionam negativamente com o aleitamento materno, encontra-se o uso de medicamentos pela lactante, os quais podem ser incompatíveis ou interferir na alimentação do bebê, reduzindo a produção de leite ou, pior, levando ao desmame. Este último ocorre, pois, em razão do desconhecimento de características farmacológicas, bioquímicas e das diversas etapas do metabolismo dos fármacos no organismo humano, os medicamentos podem ser erroneamente rotulados como contra-indicados durante o aleitamento materno e, devido à indicação precipitada e equivocada de desmame, causar enormes prejuízos à criança e à mãe.

  Uma pesquisa realizada pela Revista Paulista de Pediatria entrevistou 502 mães, das quais 341 (68%) referiram ter utilizado um ou mais medicamentos durante o período de aleitamento materno. Destas, 316 (93%) seguiram a prescrição de receitas médicas e 25 (7%) o fizeram por conta própria. Nenhuma das entrevistadas seguiu orientação de outras pessoas ou profissionais de saúde que não fossem médicos.
  Dentre o grupo constituído por 502 mães, pôde-se verificar que a maior parte delas tinha entre 20 e 40 anos de idade (81%), eram donas-de-casa (71%), com um ou dois filhos (74%), escolaridade até o segundo grau (91%) e que todas fizeram seguimento pré-natal em unidades básicas de saúde, conforme pode ser observado.


  Quanto à utilização de medicamentos durante o período de aleitamento materno, encontraram-se 434 respostas afirmativas para as 341 lactantes que o fizeram, visto que, em vários casos, as mães referiram ter utilizado mais de um tipo de fármaco. De acordo com a segunda tabela, vitaminas e sais de ferro (59%) foram os medicamentos mais utilizados pelas lactantes, justificados por prescrição de rotina dos serviços para suplementação alimentar da mãe no período pós-parto e durante a lactação. Os medicamentos mais consumidos para o tratamento de doenças ou como sintomáticos integraram o grupo dos analgésicos/antitérmicos/antiinflamatórios (15%), hormônios (12%), anticoncepcionais (2%) e antieméticos (2%). O estudo encontrou apenas três (1%) pacientes que interromperam o aleitamento materno devido à necessidade da utilização de carbonato de lítio para tratamento psiquiátrico.




  Observa-se que os suplementos com ferro e as vitaminas foram os medicamentos mais utilizados e, em algumas ocasiões, além do efeito suplementar primário, podem também eventualmente apresentar, como efeito placebo, estimulo à amamentação, conforme relatado por algumas mães que referiram o motivo da utilização do medicamento.

  Excetuando-se os casos de uso do carbonato de lítio, que contra-indica o aleitamento materno, todos os outros grupos de medicamentos utilizados eram compatíveis com a amamentação. Deve-se destacar que também alguns sintomas, como dores principalmente, e as doenças que acometem as lactantes podem interferir negativamente na prática do aleitamento materno, pois causam estresse e desconforto, tornando necessário o tratamento medicamentoso, seja sintomático ou específico para a resolução dos problemas de saúde da lactante.



  Portanto, todos os cuidados devem ser tomados quanto à saúde do binômio mãe-filho durante o período de lactação. Especificamente quanto ao tema deste estudo, o diagnóstico das doenças maternas intercorrentes durante a amamentação, o conhecimento de publicações sobre os novos medicamentos que rapidamente surgem no mercado e a utilização de medicamentos compatíveis com o aleitamento materno são fundamentais para a tomada de decisões. Deve ser destacada também a importância da divulgação de conhecimentos sobre a fisiologia da absorção e da excreção dos medicamentos, de suas propriedades farmacológicas e características bioquímicas e de todos os fatores relativos ao leite, à mama, à mãe a ao lactente, que estão envolvidos no uso de medicamentos pela lactante.

  Destaque deve ser dado à orientação para que todo e qualquer tratamento da nutriz seja feito sob a supervisão e responsabilidade de um profissional médico, desestimulando o perigoso hábito da automedicação, que, no estudo mostrado, foi referido por 25 (7%) lactantes. Tais medidas são de extrema relevância e devem ser adotadas em todos os serviços de atendimento à saúde da gestante e da lactante, no sentido de minimizar os efeitos negativos tanto da utilização do medicamento, quanto da possibilidade de desmame em situações duvidosas e até mesmo injustificadas.

  É isso aí galera, estamos encerrando nossas postagens por esse semestre, gostamos muito de ter contado com a companhia de vocês durante esses meses de debates produtivos, esperamos que tenham gostado também. Forte abraço e até a próxima!


LIPIDIOS DO LEITE  E DESENVOLVIMENTO CEREBRAL

                Nas últimas décadas várias pesquisas mostraram os efeitos da desnutrição sobre o desenvolvimento neuropsicomotor das crianças. Assim, para que a criança tenha um ótimo desenvolvimento cerebral, é importante que ela receba uma nutrição adequada no período fetal e nos primeiros anos de vida. Assim ela necessita de macronutrientes (carboidratos, lipídios, proteínas) e micronutrientes ( vitaminas A, D, complexo B, ferro,  iodo, o zinco e o selênio).

                Vários fatores alteram esse desenvolvimento neuropsicomotor das crianças, entre eles os genéticos, o meio ambiente, o nível socioeconômico e a presença de comorbidades, mas seguramente a nutrição ocupa papel importantíssimo no desenvolvimento neurológico da criança.

                Estudos demonstraram que a suplementação nutricional, em determinadas situações, compensa algum déficit neurológico em crianças desnutridas, mormente a suplementação de micronutrientes. Existem várias teorias para justificar a relação entre desnutrição e déficit cognitivo na infância, e uma delas aponta lesões irreversíveis no cérebro em razão de uma dieta inadequada tanto quantitativa quanto qualitativamente.


UM POUCO DE BIOQUÍMICA


                Os lipídios têm importância fundamental na obtenção de um crescimento satisfatório tanto na vida intra-uterina quanto na pós-natal. Eles fornecem os ácidos graxos necessários para o desenvolvimento do sistema nervoso central, pois são parte integrante de suas membranas celulares.

                Os ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa e seus derivados eicosanoides estão envolvidos na regulação do crescimento celular através da modulação gênica. Vale lembrar que tal efeito se inicia na vida intra-uterina, mas só termina no final do primeiro ano de idade, o que mostra a importância da presença de níveis adequados de ácido docosaexaenoico no feto, no recém-nascido e no lactente jovem.

                 A regulação da expressão gênica pelos ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa é realizada através da transcrição, e os fatores que ativam essa transcrição têm estrutura semelhante à dos receptores nucleares dos hormônios da supra-renal, da vitamina D, da tiroxina e do ácido retinóico. Os ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa são componentes de vários fosfolipídios que, em conjunto com o colesterol, promovem a organização das membranas celulares e de diversas organelas intracelulares. Já é bem conhecida a relação entre alteração dos ácidos graxos das membranas celulares e déficit funcional quanto a fluidez, espessura, propriedades elétricas e interação com proteínas das referidas membranas. A deficiência da série ϖ-3 dos ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa provoca uma troca de ácidos graxos na membrana celular, mais evidente nas células nervosas e retinianas, em que ocorre alteração da permeabilidade celular. Essa permeabilidade é ainda mais afetada quando se dá a substituição de um ácido graxo poli-insaturado por outro saturado, o que põe em risco a integridade da célula com alteração da molécula de fosfolipídio e prejuízo de sua função. Além disso, essa troca de ácidos graxos diminui o potencial elétrico da membrana celular porque bloqueia os canais de sódio e de cálcio.

                As crianças alimentadas precocemente com leite humano apresentam maiores quantidades do ácido araquidônico e do docosaexaenoico no córtex cerebral e na retina, pois o leite materno, além de conter teores adequados de ácidos graxos essenciais, também apresenta em sua composição ótimas quantidades de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa.

  
VÍDEO




CONCLUINDO
               

  Por fim, vale enfatizar que o leite humano contém praticamente todos esses nutrientes em quantidades adequadas para um crescimento e um desenvolvimento cerebral ótimos. Os lipídios têm importância fundamental na obtenção de um crescimento satisfatório tanto na vida intra-uterina quanto na pós-natal. Eles fornecem os ácidos graxos necessários para o desenvolvimento do sistema nervoso central, pois são parte integrante de suas membranas celulares.


ATÉ MAIS PESSOAL!



sexta-feira, 19 de junho de 2015

Opções nutricionais para bebês prematuros

Olá, pessoal!
O leite materno in natura é super nutritivo e suficiente para o desenvolvimento da maioria dos bebês, exceto para os prematuros que têm necessidades maiores, como nós vamos falar a seguir.
Vários estudos já mostraram que as quantidades de proteína, sódio, fosfato e cálcio no leite humano não são suficientes para manter um crescimento adequado desses recém-nascidos prematuros. Por isso muitos estudos vêm sendo feito para criar uma opção nutricional que supra essas necessidades e, como já dissemos milhares de vezes, o leite materno e sua excelente composição são a base de muitos desses alimentos fortificados.
Entre os muitos métodos utilizados estão a diálise e a ultrafiltração, infelizmente estes são procedimentos muito complexos e que precisam de aparelhos sofisticados e de alto custo.
Mas, felizmente, existem outros métodos mais acessíveis a realidade da saúde no nosso país, como a evaporação e a pasteurização (já até falamos um pouco em post anterior).

A evaporação do leite humano consiste em retirar uma determinada quantidade de água, tornando-o mais concentrado, e para a alegria de todos é um método simples e de baixo custo relativo. Santos, em 1994, utilizou a técnica de evaporação e, depois, a precipitação e retirada da lactose, a fim de ser utilizado o produto final como aditivo do leite humano. A evaporação realizado no estudo que utilizamos para a elaboração desse post ocorreu através da retirada de 30% de água, empregando um evaporador rotativo a vácuo. O vácuo é importante, pois quanto mais baixa a pressão imposta, menor será a temperatura necessária para ocorrer a ebulição do leite humano. A temperatura usada na evaporação foi de 40 ºC, pois a esse nível as propriedades naturais do leite humano são pouco afetadas. Alguns dos componentes do leite podem ser desnaturados quando submetidos a altas temperaturas, e assim perdem a sua função.
Já a pasteurização consiste num aquecimento seguido por um rápido resfriamento, que busca assim reduzir ao máximo o número de micro-organismos que podem estar no leite.
Os resultados obtidos evidenciam algumas perdas nutricionais nos procedimentos, em especial nas concentrações de IgA. Na tabela abaixo podemos verificar a redução da concentração de alguns componentes, mas também o aumento.

Com base nas observações sobre as mudanças na composição bioquímica, imunológica e na osmolaridade do leite humano sofridas através dos processos de pasteurização e evaporação, pode-se concluir, analisando as necessidades nutricionais preconizadas para o recém-nascido pré-termo pela Academia Americana de Pediatria de 1998, pelo Comitê de Nutrição da Sociedade Européia de Pediatria e Gastroenterologia de 2006 e pelo Comitê de Nutrição da Sociedade Canadense de Pediatria, que o leite humano pasteurizado e evaporado a 70% pode suprir as necessidades recomendadas para os nutrientes de sódio, potássio, magnésio, proteína, gordura e lactose, mas não atinge a recomendação para cálcio e fósforo.
Bom pessoal, essa foi a postagem de hoje, esperamos que tenham gostado.
Até a próxima !

OBS: 
Usamos o seguinte artigo para fazer esse post, caso ainda tenham alguma dúvida deem uma olhadinha.

Efeito da evaporação e pasteurização na composição bioquímica e imunológica do leite humano - Lucylea P. M. Braga; Durval B. Palhares.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572007000100011 
 

sábado, 23 de maio de 2015

Leite humano pode ser estocado ?

Olá, pessoal !
A postagem da semana será sobre o leite humano ordenhado que será estocado, isso mesmo, ordenhado… o termo pode parecer estranho, mas a prática é muito mais comum e necessária do que parece.
Então vamos lá...
fisiomadres.blogspot.com

O QUE É LEITE HUMANO ORDENHADO?
Algumas mães produzem mais leite do que seus filhos necessitam e, após algumas triagens que envolvem tempo de amamentação, idade, estado geral de saúde, elas podem doar seu leite para o Banco de Leite Humano (BLH), e é esse leite que é o ordenhado.
O BLH é um centro responsável pela coleta, processamento e distribuição desse leite, e há toda uma legislação que regula suas atividades. Caso haja interesse, vocês podem ler mais sobre o assunto no site da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano: http://www.redeblh.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=273

QUAIS OS PRÉ-REQUISITOS PARA O PROCESSAMENTO DO LEITE?
No leite são avaliados segundo os aspectos sensoriais (ausência de sujidades, cor e off-flavor característicos), os físico-químicos (acidez Dornic entre 1 e 8ºD e crematócrito) e os microbiológicos (ausência de coliforme a 35ºC), caso não preencham as especificações são descartados. Após o descarte, os demais leites vão continuar o processamento, no qual ele vai ser congelado e pasteurizado a 62,5 ºC por 30 minutos.
QUAL A COMPOSIÇÃO BÁSICA DO LEITE APÓS A PASTEURIZAÇÃO?
Leite
Humano
Carboidratos (%)
Proteínas (%)
Minerais (%)
Antes do
congelamento
8,16 ± 0,68
0,93 ± 0,32
0,15 ± 0,06
Após o
congelamento
7,28 ± 1,87
1,87 ± 1,40
0,15 ± 0,04
Após a
pasteurização
6,85 ± 2,87
1,98 ± 1,18
0,14 ± 0,03
Sousa PPR, Silva JA. Monitoramento da qualidade do leite humano ordenhado e distribuído em banco de leite de referência. Rev Inst Adolfo Lutz. São Paulo, 2010; 69(1):7-14.


Leite Humano
Teor de lipídios totais (%)
Valor energético total – VET (Calorias)
Antes do
congelamento
4,07 ± 0,30
73,00 ± 2,68
Após o
congelamento
2,51 ± 0,88
56,19 ± 7,59
Após a
pasteurização
1,97 ± 0,33
55,58 ± 3,62
Sousa PPR, Silva JA. Monitoramento da qualidade do leite humano ordenhado e distribuído em banco de leite de referência. Rev Inst Adolfo Lutz. São Paulo, 2010; 69(1):7-14.


POR QUE HÁ TANTAS PERDAS NUTRICIONAIS?
Como podemos verificar nas tabelas acima, o leite após a pasteurização sofre muitas perdas nutricionais, e isso é uma consequência das muitas variações de temperatura, exposição a luz e ao oxigênio, entre outros fatores.
Apesar da importância do tema, são poucos os estudos que envolvem como ocorre essa perda. Um dos poucos nutrientes estudados, é a vitamina A.
www.chemistry.wustl.edu

O retinol apesar de sua resistência as variações de temperatura, é muito passível a ação dos raios ultravioletas, por serem fotossensíveis, e nos ambientes em que são processados há muito exposição a luz. Além disso as micro-ondas do forno utilizado para descongelamento, também provoca alterações. Medidas simples, como embalar os frascos em que é armazenado o leite com papel alumínio, poderia reduzir em muito as perdas nutricionais, não apenas da vitamina A mas de muitos outras substâncias também fotossensíveis.

E aí, gostaram ?!
Até a próxima pessoal !


terça-feira, 12 de maio de 2015

A Influência do Aleitamento no Vínculo Mãe-Bebê

  Fala galera! No post de hoje discutiremos um pouco sobre a relação mãe-bebê e de que forma o aleitamento materno contribui para isso.


  Dar de mamar é um ato de amor e carinho:



  A amamentação faz o bebê sentir-se querido, seguro. Dar de mamar ajuda na prevenção de defeitos na oclusão (fechamento) dos dentes, diminui a incidência de cáries e problemas na fala. Além disso, bebês que mamam no peito apresentam melhor crescimento e desenvolvimento. Trabalhos científicos identificam que essas crianças tem melhor desenvolvimento cognitivo. O leite materno é o alimento ideal, não sendo necessário oferecer água, chá e nenhum outro alimento até os seis meses de idade.
  
  Pesquisas apontam que o ato de amamentar aumenta os laços afetivos. Os olhos nos olhos e o contato contínuo entre mãe e filho fortalecem os laços afetivos, e o envolvimento do pai e familiares favorece o prolongamento da amamentação. Amamentar logo que o bebê nasce diminui o sangramento da mãe após o parto e faz o útero voltar mais rápido ao tamanho normal, e a diminuição do sangramento previne a anemia materna.
  
  A análise de dados coletados em pesquisas indicaram que, já em seu início, a relação extrauterina tem uma qualidade única e que cada criança possui um jeito muito próprio de desenvolver uma comunicação com sua mãe. Sensações agradáveis, como bem-estar e tranquilidade, traduzidos pelo ‘’ torpor’’ e sonolência da mãe e do bebê evidenciam vantagens do aleitamento. A influência direta positiva de terceiros, sentimentos de fascinação e de encantamento nas situações de cumplicidade da mãe e do bebê tornam esse ambiente ainda mais saudável.
  
  Sabe-se que o desenvolvimento corporal aliado a fatores ambientais constitui a realidade psíquica do ser humano. Ao contrário das outras espécies, o ser humano é completamente dependente ao nascer, não dispondo de aparatos suficientes que lhe permitam sobreviver. A mãe, na categoria de objeto externo, é, portanto, fator fundamental para sua sobrevivência e para a constituição dessa realidade psíquica.
  
  E como o bebê se sente?



  Klein (1969) preconiza que, logo ao nascer, o bebê entra em contato com suas primeiras necessidades físicas e orgânicas e esse contato suscita no bebê um medo de desintegração (ansiedade de morte). Diante desta necessidade orgânica, instala-se no bebê uma luta psíquica entre os instintos de vida e de morte, onde ele se organiza tanto para satisfazê-las como para negá-las. Neste sentido, se esclarece que o bebê possui forças pulsionais (de amor e de ódio) que, ao ameaçarem sua integridade, geram a ansiedade de aniquilamento e suscitam a projeção e introjeção de fantasias e o fenômeno da identificação projetiva. A amamentação e o contato com a mãe desfazem essa ansiedade sentida pelo bebê.
  
  A alimentação ao seio possibilita que se estabeleça um vínculo mãe-filho forte, especial, quase imediato, e as consequências da não construção desta relação à curto prazo deve ser motivo de preocupação e cuidado pela equipe perinatal. Como afirma Melanie Klein:
"...É o seio da mãe e tudo o que o seio e o leite representam na mente da criança: isto é, amor, bondade e segurança".
  
  Diante deste fato transcendente no começo da vida humana os pediatras, obstetras, enfermeiras, parteiras, mães e pais devem ter suas ações voltadas para a permissão deste "encontro" ao nascimento e nos primeiros dias pós-parto.
  
  A amamentação é muito mais do que um método perfeito de nutrir os lactentes, porque além disso está o contato pele-a-pele com o seio, com o colo e as mamas maternas que propiciam um melhor desenvolvimento neuro-psicomotor das crianças, significando a construção de um vínculo íntimo e cúmplice entre mãe e filho com consequências positivas para a família por toda a vida.
  

  

  Nos primeiros meses, o melhor para o bebê é ser cuidado pela mãe. Ela deve aproveitar os momentos da troca de fralda e do banho para conversar com o bebê, cantar baixinho, massagear o corpo dele, olhá-lo nos olhos.
  Como saber se o vínculo entre mãe e bebê está sendo estabelecido:
• Durante a amamentação, o bebê procura o olhar da mãe e ela olha para ele.
• Quando o bebê está chorando e a mãe o pega no colo, ele se acalma.
• Quando a mãe está bem perto do bebê, ele tenta acompanhar, com os olhos, os movimentos dela.
  Os sentimentos de fascinação e de encantamento nas situações de cumplicidade caracterizam a intensidade dessa relação.

  Relação com a liberação de Oxitocina ( '' o hormônio do amor''):

  Esse hormônio produzido pelo hipotálamo tem relação com a liberação do leite materno e com sentimentos de apego e empatia.




  Então é isso pessoal! Esperamos que a leitura seja proveitosa.
  Até a próxima postagem!



Referências:
SAMPAIO, Marisa Amorim. Psicodinâmica interativa mãe-criança e desmame. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Recife-pe, v. 26, n. 4, p.613-621, out. 2010.

FREITAS, Cintia Helena Bulgarelli. Relação mãe-bebê logo após o parto e na amamentação: a identificação projetiva realista, pelos sentimentos e sensações do observador. Psicólogo Informação, São Paulo-sp, v. 10, n. 4, p.84-101, jan. 2006.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

A RELAÇÃO ENTRE O LEITE DE VACA E O DIABETES TIPO 1

Olá, pessoal! Relacionaremos na publicação de hoje as possíveis influências do leite de vaca  sobre o diabetes tipo 1.

É sabido que muitas doenças crônicas são causadas por dietas desequilibradas.  O termo usado para indicar alimentos que contêm componentes promotores da saúde e não somente nutrientes tradicionais é alimento funcional. Deste ponto de vista, o leite e derivados pertencem à família dos alimentos funcionais, repletos de peptídeos bioativos, bactérias probióticas, antioxidantes, cálcio altamente absorvível, ácido conjugado linoléico e outros componentes biologicamente ativos.

O QUE É DIABETES TIPO 1?

O diabetes mellitus tipo 1  ou dependente de insulina ocorre em indivíduos geneticamente susceptíveis, como consequência direta de um processo autoimune, que leva à destruição das células beta das ilhotas de Langerhans no pâncreas. É um processo crônico, com um período médio provável de latência de 10 anos. O pico de incidência da doença ocorre na faixa etária de 10 a 14 anos. Indivíduos com risco de desenvolver essa doença podem ser identificados pela presença, no soro, de auto-anticorpos anti-células das ilhotas, anti-insulina, anti-ácido glutâmico dexcarboxilase, anti-tirosina fosfatase e por uma diminuição da capacidade de produzir insulina.

FATORES ENVOLVIDOS

Diferentes fatores ambientais podem estar envolvidos na iniciação e manutenção do processo autoimune, entre eles, as viroses, especialmente aquelas relacionadas ao vírus Coxsackie B, ao citomegalovirus, ao da varicela, ao da rubéola e ao do sarampo. As relações entre o DM1 e 1) algumas toxinas, como por exemplo as nitrosaminas, 2) o estresse emocional e 3) diferentes componentes da dieta, como o leite materno (LM), o leite de vaca (LV), o leite de soja, as carnes defumadas, a água com alto teor de nitrato (efeito tóxico), a idade da introdução de alimentos sólidos na dieta infantil e o consumo de café e de açúcar pela mãe durante a gestação, também têm sido investigadas.

PERCALÇOS DE PESQUISADOR

            Uma dificuldade para interpretar, como causais, as associações encontradas entre o DM1 e os diferentes fatores de risco é que a destruição das células beta pancreáticas pode ter sido iniciada muitos anos antes do aparecimento clínico da doença, incluindo o período intra-uterino; essas associações podem refletir a presença de certos fatores precipitantes da doença e não, necessariamente, a de promotores da destruição das células beta. Há evidências que apontam o leite materno e o leite de vaca, respectivamente, como fator de proteção e de risco para o DM1.

 BIOQUÍMICA DO LEITE...

O aleitamento ao seio poderia ser capaz de modificar a história natural do DM1, protegendo a criança contra doenças viróticas, evitando ou retardando o aparecimento da doença. Além disso, o LM compensaria a deficiência na produção de imunoglobulinas e protegeria a criança contra infecções do trato gastrointestinal.
A semelhança observada entre uma dada seqüência de amino-ácidos da albumina bovina (AB) e a proteína p69, encontrada na superfície das células beta pancreáticas, cuja presença é mediada pelo gama-interferon, sugere que o LV poderia ser um desencadeador do DM 1 . O sistema imune identificaria na albumina uma seqüência de 17 amino-ácidos diferente daquela observada na mesma proteína em humanos, produzindo anticorpos contra ela. Esses anticorpos seriam capazes de reagir com a proteína p69, cuja expressão na superfície celular ocorreria a partir de sucessivos eventos infecciosos e não relacionados, que levariam à produção de gama-interferon. O longo período de latência da doença seria explicado, pela natureza temporária de tais episódios.
A redução da resposta imune contra a albumina, observada algum tempo após o diagnóstico do DM1, fortalece, a existência de relação causal entre o diabetes e o consumo do LV.
A albumina é a proteína plasmática mais abundante; é encontrada no sangue de todos os mamíferos e uma pequena parte, aproximadamente 1% do total de proteínas, está presente no leite. Fórmulas baseadas em LV são frequentemente consumidas por ocasião do desmame ao seio. Concentrações
de AB iguais ou superiores àquelas encontradas no LV foram observadas em produtos lácteos infantis; se a AB é um desencadeador do DM1, sua presença em alguns produtos é particularmente perigosa, dado que, em geral, são consumidas em uma fase da vida em que o sistema digestivo ainda está imaturo.

OPINIÃO PROFISSIONAL



CONCLUSÃO

Tendo em vista as evidências existentes até o momento, não se pode afirmar que o desmame precoce e a consequente introdução do LV na alimentação infantil sejam causa de DM1; a importância desses fatores e da reatividade da albumina para o desenvolvimento do DM1 permanece controversa. Acredita-se ser indicada, como forma de prevenir o aparecimento do DM1, a amamentação exclusiva ao seio por pelo menos seis meses, evitando-se a introdução precoce, na alimentação infantil, do leite de vaca e de seus derivados.


REFERÊNCIAS

GIMENO, S.G., SOUSA,J.M.P. Amamentação ao seio, com leite de vaca e diabetes mellitus tipo 1. Revista Brasileira de epidemiologia. Vol. 1
ZEMEL, MB. Calcium modulation of hypertension and obesity: mechanism and
implications. J. Am. Coll. Nutr., 2001: 428S-435S.

· www.dairyaustralia.com.au . Diabetes. Dairy Australia, 2005.

Por hoje é só pessoal!!
Até a próxima postagem!!