sábado, 20 de junho de 2015

Aleitamento materno e uso de medicamentos durante a lactação

  

ALEITAMENTO X MEDICAMENTOS EM USO



  O leite materno, indiscutivelmente, é o melhor alimento que pode ser oferecido para o lactente, quer seja pelas suas características biológicas e nutricionais ou devido às várias qualidades e benefícios de ordem física e emocional que o aleitamento materno proporciona tanto para a criança quanto para a mãe.

  A prática do aleitamento materno, principalmente se desenvolvida como maneira exclusiva de alimentar o lactente, deve ser estendida até o sexto mês de vida e, a partir de então, continuada até os dois anos de idade, sendo então complementada com outros alimentos. Considerando-se os múltiplos fatores que a ela estão relacionados para que esta prática seja adequada e naturalmente desenvolvida, é necessário orientação e apoio à lactante e aos familiares, tarefa esta de grande importância e de competência dos serviços de saúde e de toda comunidade, no sentido de incentivar e facilitar o aleitamento materno.
Torna-se importante, então, identificar e entender todos os fatores que, eventualmente, possam interferir negativamente nesta prática e contribuir para o desmame precoce. Dentre os vários fatores que se relacionam negativamente com o aleitamento materno, encontra-se o uso de medicamentos pela lactante, os quais podem ser incompatíveis ou interferir na alimentação do bebê, reduzindo a produção de leite ou, pior, levando ao desmame. Este último ocorre, pois, em razão do desconhecimento de características farmacológicas, bioquímicas e das diversas etapas do metabolismo dos fármacos no organismo humano, os medicamentos podem ser erroneamente rotulados como contra-indicados durante o aleitamento materno e, devido à indicação precipitada e equivocada de desmame, causar enormes prejuízos à criança e à mãe.

  Uma pesquisa realizada pela Revista Paulista de Pediatria entrevistou 502 mães, das quais 341 (68%) referiram ter utilizado um ou mais medicamentos durante o período de aleitamento materno. Destas, 316 (93%) seguiram a prescrição de receitas médicas e 25 (7%) o fizeram por conta própria. Nenhuma das entrevistadas seguiu orientação de outras pessoas ou profissionais de saúde que não fossem médicos.
  Dentre o grupo constituído por 502 mães, pôde-se verificar que a maior parte delas tinha entre 20 e 40 anos de idade (81%), eram donas-de-casa (71%), com um ou dois filhos (74%), escolaridade até o segundo grau (91%) e que todas fizeram seguimento pré-natal em unidades básicas de saúde, conforme pode ser observado.


  Quanto à utilização de medicamentos durante o período de aleitamento materno, encontraram-se 434 respostas afirmativas para as 341 lactantes que o fizeram, visto que, em vários casos, as mães referiram ter utilizado mais de um tipo de fármaco. De acordo com a segunda tabela, vitaminas e sais de ferro (59%) foram os medicamentos mais utilizados pelas lactantes, justificados por prescrição de rotina dos serviços para suplementação alimentar da mãe no período pós-parto e durante a lactação. Os medicamentos mais consumidos para o tratamento de doenças ou como sintomáticos integraram o grupo dos analgésicos/antitérmicos/antiinflamatórios (15%), hormônios (12%), anticoncepcionais (2%) e antieméticos (2%). O estudo encontrou apenas três (1%) pacientes que interromperam o aleitamento materno devido à necessidade da utilização de carbonato de lítio para tratamento psiquiátrico.




  Observa-se que os suplementos com ferro e as vitaminas foram os medicamentos mais utilizados e, em algumas ocasiões, além do efeito suplementar primário, podem também eventualmente apresentar, como efeito placebo, estimulo à amamentação, conforme relatado por algumas mães que referiram o motivo da utilização do medicamento.

  Excetuando-se os casos de uso do carbonato de lítio, que contra-indica o aleitamento materno, todos os outros grupos de medicamentos utilizados eram compatíveis com a amamentação. Deve-se destacar que também alguns sintomas, como dores principalmente, e as doenças que acometem as lactantes podem interferir negativamente na prática do aleitamento materno, pois causam estresse e desconforto, tornando necessário o tratamento medicamentoso, seja sintomático ou específico para a resolução dos problemas de saúde da lactante.



  Portanto, todos os cuidados devem ser tomados quanto à saúde do binômio mãe-filho durante o período de lactação. Especificamente quanto ao tema deste estudo, o diagnóstico das doenças maternas intercorrentes durante a amamentação, o conhecimento de publicações sobre os novos medicamentos que rapidamente surgem no mercado e a utilização de medicamentos compatíveis com o aleitamento materno são fundamentais para a tomada de decisões. Deve ser destacada também a importância da divulgação de conhecimentos sobre a fisiologia da absorção e da excreção dos medicamentos, de suas propriedades farmacológicas e características bioquímicas e de todos os fatores relativos ao leite, à mama, à mãe a ao lactente, que estão envolvidos no uso de medicamentos pela lactante.

  Destaque deve ser dado à orientação para que todo e qualquer tratamento da nutriz seja feito sob a supervisão e responsabilidade de um profissional médico, desestimulando o perigoso hábito da automedicação, que, no estudo mostrado, foi referido por 25 (7%) lactantes. Tais medidas são de extrema relevância e devem ser adotadas em todos os serviços de atendimento à saúde da gestante e da lactante, no sentido de minimizar os efeitos negativos tanto da utilização do medicamento, quanto da possibilidade de desmame em situações duvidosas e até mesmo injustificadas.

  É isso aí galera, estamos encerrando nossas postagens por esse semestre, gostamos muito de ter contado com a companhia de vocês durante esses meses de debates produtivos, esperamos que tenham gostado também. Forte abraço e até a próxima!

2 comentários:

  1. Ótima postagem pessoal, muito interessante! A passagem de drogas do sangue para o leite materno ocorre por mecanismos envolvendo as memebranas biológicas as quais possuem como composição proteínas e fosfolipídios, tais componentes vão exercer influência na velocidade da passagem do medicamento e,por conseguinte, na concentração da substância no leite materno. Após atravessar o endotélio capilar, a droga passa para o interstício e atravessa a membrana basal das células do tecido mamário.
    http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/amamentacao_uso_medicamentos_2ed.pdf

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  2. A maioria das drogas passa para o leite materno, mas em pequenas quantidades; e mesmo quando presentes no leite, as drogas poderão ou não ser absorvidas no trato gastrointestinal do lactente. Só excepcionalmente, quando a doença materna requer tratamento com medicações incompatíveis com a amamentação, esta deve ser interrompida. As proteínas e lipídeos presentes no leite materno podem funcionar como transportadores de medicamentos ingeridos pela mãe. Drogas com grande afinidade por proteínas plasmáticas maternas aparecem em pouca quantidade no leite. A variação na composição lipídica do leite (leite anterior, leite posterior) influi na quantidade da droga nele contida. O epitélio alveolar mamário representa uma barreira lipídica, mais permeável na fase de colostro (primeira semana pós-parto). O pH do leite humano (6,6 a 6,8) é um pouco menor do que o do plasma, ou seja, mais ácido, o que favorece a concentração de substâncias com características básicas, por mecanismo de ionização.
    Referência: CHAVES, Roberto G.; LAMOUNIER, Joel A. Uso de medicamentos durante a lactação. J Pediatr (Rio J), v. 80, n. Suppl 5, p. S189-98, 2004.

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