ALEITAMENTO X MEDICAMENTOS EM USO
O
leite materno, indiscutivelmente, é o melhor alimento que pode ser
oferecido para o lactente, quer seja pelas suas características
biológicas e nutricionais ou devido às várias qualidades e
benefícios de ordem física e emocional que o aleitamento materno
proporciona tanto para a criança quanto para a mãe.
A
prática do aleitamento materno, principalmente se desenvolvida como
maneira exclusiva de alimentar o lactente, deve ser estendida até o
sexto mês de vida e, a partir de então, continuada até os dois
anos de idade, sendo então complementada com outros alimentos.
Considerando-se os múltiplos fatores que a ela estão relacionados
para que esta prática seja adequada e naturalmente desenvolvida, é
necessário orientação e apoio à lactante e aos familiares, tarefa esta de grande importância e de competência dos serviços de
saúde e de toda comunidade, no sentido de incentivar e facilitar o
aleitamento materno.
Torna-se
importante, então, identificar e entender todos os fatores que,
eventualmente, possam interferir negativamente nesta prática e
contribuir para o desmame precoce. Dentre os vários fatores que se
relacionam negativamente com o aleitamento materno, encontra-se o uso
de medicamentos pela lactante, os quais podem ser incompatíveis ou
interferir na alimentação do bebê, reduzindo a produção de leite
ou, pior, levando ao desmame. Este último ocorre, pois, em razão do
desconhecimento de características farmacológicas, bioquímicas e
das diversas etapas do metabolismo dos fármacos no organismo humano,
os medicamentos podem ser erroneamente rotulados como
contra-indicados durante o aleitamento materno e, devido à indicação
precipitada e equivocada de desmame, causar enormes prejuízos à
criança e à mãe.
Uma pesquisa realizada pela Revista Paulista de Pediatria entrevistou 502 mães, das quais 341 (68%) referiram ter utilizado
um ou mais medicamentos durante o período de aleitamento materno.
Destas, 316 (93%) seguiram a prescrição de receitas médicas e 25
(7%) o fizeram por conta própria. Nenhuma das entrevistadas seguiu
orientação de outras pessoas ou profissionais de saúde que não
fossem médicos.
Dentre
o grupo constituído por 502 mães, pôde-se verificar que a maior
parte delas tinha entre 20 e 40 anos de idade (81%), eram
donas-de-casa (71%), com um ou dois filhos (74%), escolaridade até o
segundo grau (91%) e que todas fizeram seguimento pré-natal em
unidades básicas de saúde, conforme pode ser observado.

Quanto
à utilização de medicamentos durante o período de aleitamento
materno, encontraram-se 434 respostas afirmativas para as 341
lactantes que o fizeram, visto que, em vários casos, as mães
referiram ter utilizado mais de um tipo de fármaco. De acordo com
a segunda tabela, vitaminas e sais de ferro (59%) foram os medicamentos mais
utilizados pelas lactantes, justificados por prescrição de rotina
dos serviços para suplementação alimentar da mãe no período
pós-parto e durante a lactação. Os medicamentos mais consumidos
para o tratamento de doenças ou como sintomáticos integraram o
grupo dos analgésicos/antitérmicos/antiinflamatórios (15%),
hormônios (12%), anticoncepcionais (2%) e antieméticos (2%). O
estudo encontrou apenas três (1%) pacientes que interromperam o
aleitamento materno devido à necessidade da utilização de
carbonato de lítio para tratamento psiquiátrico.

Observa-se
que os suplementos com ferro e as vitaminas foram os medicamentos
mais utilizados e, em algumas ocasiões, além do efeito suplementar
primário, podem também eventualmente apresentar, como efeito
placebo, estimulo à amamentação, conforme relatado por algumas
mães que referiram o motivo da utilização do medicamento.
Excetuando-se
os casos de uso do carbonato de lítio, que contra-indica o
aleitamento materno, todos os outros grupos de medicamentos
utilizados eram compatíveis com a amamentação. Deve-se destacar
que também alguns sintomas, como dores principalmente, e as doenças
que acometem as lactantes podem interferir negativamente na prática
do aleitamento materno, pois causam estresse e desconforto, tornando
necessário o tratamento medicamentoso, seja sintomático ou
específico para a resolução dos problemas de saúde da lactante.
Portanto,
todos os cuidados devem ser tomados quanto à saúde do binômio
mãe-filho durante o período de lactação. Especificamente quanto
ao tema deste estudo, o diagnóstico das doenças maternas
intercorrentes durante a amamentação, o conhecimento de publicações
sobre os novos medicamentos que rapidamente surgem no mercado e a
utilização de medicamentos compatíveis com o aleitamento materno
são fundamentais para a tomada de decisões. Deve ser destacada
também a importância da divulgação de conhecimentos sobre a
fisiologia da absorção e da excreção dos medicamentos, de suas
propriedades farmacológicas e características bioquímicas e de
todos os fatores relativos ao leite, à mama, à mãe a ao lactente,
que estão envolvidos no uso de medicamentos pela lactante.
Destaque
deve ser dado à orientação para que todo e qualquer tratamento da
nutriz seja feito sob a supervisão e responsabilidade de um
profissional médico, desestimulando o perigoso hábito da
automedicação, que, no estudo mostrado, foi referido por 25
(7%) lactantes. Tais medidas são de extrema relevância e devem ser
adotadas em todos os serviços de atendimento à saúde da gestante e
da lactante, no sentido de minimizar os efeitos negativos tanto da
utilização do medicamento, quanto da possibilidade de desmame em
situações duvidosas e até mesmo injustificadas.
É isso aí galera, estamos encerrando nossas postagens por esse semestre, gostamos muito de ter contado com a companhia de vocês durante esses meses de debates produtivos, esperamos que tenham gostado também. Forte abraço e até a próxima!