quarta-feira, 22 de abril de 2015

A bioquímica por trás do leite da vaca e seu uso para lactentes

IMPORTÂNCIA DO ALEITAMENTO

Estima-se que o aleitamento materno poderia evitar 13% das mortes em crianças menores de 5 anos em todo o mundo, por causas preveníveis. Nenhuma outra estratégia isolada alcança o impacto que a amamentação tem na redução das mortes de crianças menores de 5 anos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Unicef, em torno de seis milhões de vidas de crianças estão sendo salvas a cada ano por causa do aumento das taxas de amamentação exclusiva.

Estudos revelam que até os seis primeiros meses de idade, o leite materno supre as necessidades de ferro das crianças nascidas a termo. A partir daí, torna-se necessária a ingestão de uma alimentação complementar rica em ferro. Considerando a importância da dieta na determinação da anemia e o alto consumo de leite de vaca na infância, procuramos nesta postagem a verificar a influência do leite de vaca na amamentação à luz do conhecimento bioquímico.
           

HUMANO VERSUS  VACA

As duas proteínas mais encontradas no leite são a caseína e as proteínas do soro. No leite de vaca, a caseína constitui cerca de 80% das proteínas totais, enquanto no leite humano predominam as proteínas do soro, na propor ção de 60-70%, cuja digestão é mais fácil em relação à caseína, que exige maior secreção de ácido clorídrico para adequar o pH do estômago e permitir sua digestão pela pepsina. A lactose é o principal açúcar presente no leite (humano e de vaca) e nas fórmulas infantis, e suas funções são: fornecer energia, promover a absorção do cálcio e desenvolver a flora microbiana intestinal adequada.

Existem diferenças significativas, quanto aos lipídios, na composição de ácidos graxos: no leite de vaca, predominam os ácidos graxos saturados e, no leite humano, predominam os insaturados. Quanto maior o tamanho da cadeia e mais saturado é o ácido graxo, menor é a sua absorção. O leite de vaca é pobre em ácido linoléico e vitamina E, além de conter quantidades excessivas de sódio, potássio e proteínas.

Tanto o leite de vaca como o leite materno são pobres em ferro (cerca de 0,2-0,5 mg de ferro por litro), embora o ferro do leite materno esteja ligado à lactoferrina e apresente maior biodisponibilidade. O leite de vaca também apresenta baixo conteúdo de vitamina C, considerado um fator estimulador da absorção de ferro, e alto teor de cálcio e fósforo, fatores inibidores da absorção de ferro. O leite materno maduro contém, em média, 40±10 mg/l de vitamina C18 e apresenta a vantagem de não necessitar de manipulação ou aquecimento, que favorecem as perdas desse nutriente.

OPINIÃO PROFISSIONAL






COMPLICAÇÕES

Entre as manifestações clínicas mais comuns, encontram-se as gastrintestinais, respiratórias, cutâneas e anafiláticas. Além disso, como o leite de vaca é o alimento mais freqüente da dieta na fase de desmame e utilizado comumente em detrimento de outros alimentos fonte de ferro, substituindo ou complementando uma refeição salgada, pode favorecer o desenvolvimento da anemia ferropriva.

A manifestação mais característica da deficiência de ferro é a anemia ferropriva microcítica. Entretanto, as deficiências subclínicas de ferro, por causarem desordens no metabolismo oxidativo, podem determinar prejuízos à
saúde em todos os estágios da vida, estando associadas a alterações no desempenho oxidativo, função muscular, atividade física, produtividade no trabalho ou na escola, acuidade mental e capacidade de concentração. Além disso, pode haver alterações na termogênese, na pele, nas unhas e mucosas, bem como diminuição na resposta imunológica, que, por sua vez, aumenta a morbidade por doenças infecciosas.

 FERRO NO LEITE

O baixo conteúdo de ferro e a sua baixa biodisponibilidade, e do fato de ser utilizado em detrimento de outros alimentos ricos nesse nutriente, o leite de vaca pode ocasionar o sangramento gastrintestinal oculto, mais um efeito negativo ao estado nutricional de ferro em lactentes.

No leite de vaca, podem ser encontradas pelo menos 20 proteínas que podem funcionar como alérgenos, sendo a ß- lactoglobulina e a caseína as  principais.

As funções desenvolvidas pelo ferro no organismo encontra-se associado a duas categorias de componentes: aqueles que têm função metabólica ou enzimática (componentes funcionais) e aqueles associados ao armazenamento. Os componentes funcionais são a hemoglobina e a mioglobina, em menor quantidade nos tecidos corporais, e várias outras proteínas que atuam no transporte, armazenamento e utilização do oxigênio.

ferro também participa de uma variedade de processos bioquímicos, incluindo o transporte de elétrons na mitocôndria, metabolismo das catecolaminas e síntese de DNA. A maior parte do ferro está presente na hemoglobina (70-80%), uma cromoproteína que tem como grupo prostético o radical heme, presente nos eritrócitos.

ENTÃO... 

Assim, retardar a introdução de outros alimentos na dieta da criança pode prevenir o aparecimento de alergias, principalmente naquelas com histórico familiar positivo para essas doenças. A exposição a pequenas doses de leite de vaca nos primeiros dias de vida parece aumentar o risco de alergia ao leite de vaca. Por isso é importante evitar o uso desnecessário de fórmulas lácteas nas maternidades.  A composição do leite de vaca difere do leite humano, uma vez que o primeiro oferece quantidades excessivas de proteínas e minerais, interferindo na absorção do ferro. Isso justifica a recomendação de que o leite e seus derivados não sejam consumidos junto a outros alimentos fontes de ferro.

O consumo de leite de vaca, dessa forma, deve ser realizado com moderação, pois o que está em jogo é a saúde de nossos filhos.


REFERÊNCIAS
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2009.

Oliveira MA, Osório MM. Consumo de leite de vaca e anemia ferropriva na infância. J Pediatria. Rio Janeiro. 2005.




Esperamos ter contribuído para o esclarecimento de algumas dúvidas, em nossa próxima postagem abordaremos as formas de realizar o aleitamento materno.

Até a próxima!

7 comentários:

  1. Ótimo post! É muito importante fazer essa comparação entre esses tipos de leite já que o leite de vaca é um dos mais consumidos e o principal substituto do leite materno no desmame. Interessante que o leite humano seja tão superior que o da vaca, outro diferença interessante que encontrei é o fato de que a lactose do leite humano contribui para a acidez das fezes do bebé, protegendo-o do desenvolvimento da Escherichia Coli e de gastroenterites. O leite de vaca não tem essa propriedade. Outra curiosidade é: o leite de vaca contêm 3 vezes mais cálcio e 8 vezes mais fósforo do que o leite materno, mas a "pobreza" de cálcio do leite materno não apresenta nenhum inconveniente pois as necessidades do bebé são completamente satisfeitas, enquanto que o elevado teor de fósforo do leite de vaca diminui a absorção de cálcio na criança. Mais pontos pro leite humano :DD
    Aguardando a postagem sobre as formas de amamentar!

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  2. Sempre muito útil reforça a superioridade do leite materno sobre o de vaca para nossos bebês. Muitos mitos foram fixados em nossa cultura de que existem melhores opções que o leite da mãe.

    Até 1981, haviam massivas campanhas publicitárias que incluíam brindes, cartilhas "educativas", cartazes e propaganda com crianças saudáveis sendo alimentadas com leite de vaca (natural ou em pó) e fórmulas. Entretanto, a OMS, o Ministério da Saúde e a Unicef realizaram diversas ações para coibir essas práticas, que usavam de táticas mercadológicas ardilosas em detrimento da saúde das crianças.

    A pediatra Keiko Teruya nos alerta sobre um mito criado e enraizado até então (e infelizmente, que ainda perdura até hoje): que o leite materno é fraco, principalmente em relação ao bovino. Muitas mães notam que seus filhos demoram mais entre uma mamada e outra quando alimentados com o leite bovino. que também é mais espesso. Entretanto, isso se dá pela dificuldade da digestão de certos nutrientes deste (como os lipídeos) que apresentam moléculas maiores. "A criança se sente como o adulto que comeu uma feijoada: de estômago cheio e sonolenta, largada", diz. Além disso, o excesso de eletrólitos, como o sódio e o potássio, e produtos do metabolismo do excesso de proteínas podem sobrecarregar os rins ainda imaturos das crianças (sobretudo nos primeiros meses).

    Fontes:
    Entrevista com a médica pediatra Keyko Teruya (disponível em: http://drauziovarella.com.br/crianca-2/aleitamento-materno/)

    FIGUEIREDO, Lúcia M. H., e GOULART, Eugênio M. A. Análise da eficácia do Programa de Incentivo ao Aleitamento Materno em um bairro periférico
    de Belo Horizonte (Brasil): 1980/1986/1992. (disponível em: ).

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  3. GRUPO M:

    Muito relevante esta postagem, pois nos coloca a par das reais vantagens do leite humano sobre o leite de vaca, evidenciando, principalmente, a questão das proteínas predominantes em cada tipo de leite (proteína do soro e caseína, respectivamente) e qual apresenta uma melhor digestão no organismo, evidenciando, também o potencial alérgeno no leite da vaca no neonato, e a má absorção do Ferro presente nele. Além das diferenças já citadas na postagem, é importante ressaltar outras de extrema importância, como por exemplo: a maior quantidade de aminoácidos essenciais de alto valor biológico no leite humano, como a cistina e a taurina, que não tem no leite da vaca, e que são fundamentais para o crescimento e desenvolvimento do sistema nervoso central. Isto é particularmente fundamental para os recém-nascidos que não possuem enzimas necessárias para a formação da Taurina. Além disso, vale ressaltar a grande quantidade de proteínas no leite da vaca, e tudo que é em excesso é prejudicial, uma vez que esse excesso de proteína acidificará o pH sanguíneo e sobrecarregará o rim, quando consumido em alta quantidade, aumentando a excreção urinária de Cálcio, diminuindo, assim, a mineralização óssea, bastante importante no processo de desenvolvimento do indivíduo.

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  4. GRUPO J
    Ótima postagem!! A composição do leite de vaca difere do leite humano, uma vez que, como foi dito, o primeiro oferece quantidades excessivas de proteínas e minerais, interferindo na absorção do ferro. Isso justifica a recomendação de que o leite e seus derivados não sejam consumidos junto a outros alimentos fontes de ferro. Além disso, o consumo de leite de vaca pode estar associado às perdas de sangue oculto nas fezes, principalmente nas crianças menores de 1 ano. Por isso, a importância de se incentivar o aleitamento materno em detrimento de qualquer outro tipo de alimentação é primordial. Até a próxima postagem!!

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  5. O meu grupo também posta sobre os bebê e em uma postagem anterior abordamos esse tema da amamentação. Como vocês falaram, o leite materno é o único realmente indicado para o bebê. As vantagens bioquímica, digestivas e nutricionais do leite materno são imensuráveis. As proteínas presentes no leite humano facilitam e encurtam o período de digestão e apresentam alta biodisponibilidade(essencial na prevenção de doenças no primeiro ano de vida); as gorduras, representadas especialmente por ácidos gordurosos não saturados, são participantes da síntese dos lipídeos no processo de mielinização e determinam melhor e mais complexo desenvolvimento cognitivo e do sistema nervoso humano.
    MONTEIRO, J.C.S; NAKANO, A.M.S; GOMES, F.A. Amamentação precoce na primeira meia hora de vida da criança. R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 abr/jun; 14(2):202-7. • p.203. Disponível em:http://www.facenf.uerj.br/v14n2/v14n2a08.pdf

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  6. GRUPO I

    Ótimo post! Importante lembrar, como já foi citado no post, que a UNICEF calcula que um milhão e meio de crianças morrem por ano por falta de aleitamento materno. E não se pense que é só nos países do terceiro mundo. Mesmo nos países industrializados muitas mortes se poderiam evitar com o aleitamento materno. O leite materno contém todas as proteínas, açúcar, gordura, vitaminas e água que o bebê necessita para ser saudável. Além disso, contém determinados elementos que o leite em pó não consegue incorporar, tais como anticorpos e glóbulos brancos. É por isso que o leite materno protege o bebé de certas doenças e infecções.

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  7. Ótima postagem, pessoal! Escobar e colaboradores dizem que industrialização e o aperfeiçoamento das técnicas de esterilização do leite de vaca propiciaram a produção em larga escala dos leites em pó. As indústrias produtoras desses leites, assessoradas por intensa e agressiva publicidade, procuraram fazer com que o leite em pó fosse caracterizado como um substituto satisfatório para o leite materno devido à sua praticidade, condições adequadas de higiene e suprimento completo de todas as necessidades nutricionais do lactente, uma vez que a maioria deles reforçava o fato de serem enriquecidos com vitaminas, o que os atuava na falsa ideia de que seriam superiores ao leite materno.

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